Financial
Times: Evangélicos do Brasil estão empurrando a política para a Direita
Julio
Severo
Uma recente reportagem do jornal britânico Financial
Times (FT) disse com precisão que os evangélicos do Brasil estão empurrando a
política para a Direita, mas usou um exemplo impreciso: Marcelo Crivella.
O FT disse: “Um missionário evangélico na África por
vários anos, o senador brasileiro Marcelo Crivella certa vez descreveu católicos
e outras denominações cristãs como demoníacos e condenou a homossexualidade
como um mal terrível. Tais opiniões — destacadas em seu livro que documenta seu
tempo na África — provocariam choque entre os políticos. Mas o sr. Crivella, um
cantor gospel da Igreja Universal do Brasil, é o favorito decisivo para se
tornar o prefeito do Rio de Janeiro, uma das cidades mais racial e socialmente
diversas do continente americano.”
O FT então diz: “Sua vitória imensa na eleição do
segundo turno em 30 de outubro reflete a emergência de uma bancada evangélica
que está levando a política brasileira para a Direita, dizem os analistas, e
com certeza vai ser mais poderosa e influente.”
Ainda que Crivella esteja sendo ajudado pela
emergência de uma poderosa Direita brasileira energizada pelos evangélicos e
seu ativismo pró-família, ele e sua igreja têm posturas que mal se assemelham a
posturas conservadoras ou direitistas. Na tribuna do Senado Federal em 2007, o
então Senador Crivella disse ousadamente: “O Evangelho é a cartilha mais
comunista que existe.”
Em ideias comunistas, ele não representa a maioria dos
evangélicos brasileiros, que são conservadores, ainda que a maioria dos bispos
católicos concordaria com ele. E a Direita evangélica brasileira não o
representa.
O histórico de Crivella inclui seu papel como bispo da
IURD.
Quando o governo socialista da presidente impichada
Dilma Rousseff queria aprovar uma lei “anti-homofobia” chamada PLC 122 que
colocaria em perigo a liberdade religiosa no Brasil, Crivella não sabia se
devia ficar do lado de sua aliada socialista Dilma ou dos evangélicos conservadores.
Mesmo assim, o Financial Times, fingindo imparcialidade,
apresentou a opinião oposta de Jean Wyllys, o único membro assumidamente
homossexual do Congresso brasileiro que é um legislador do partido esquerdista Socialismo
e Liberdade. Na reportagem do FT, Wyllys, que apoia a doutrinação homossexual
de crianças e a aniquilação delas por meio do aborto legal, é citado como
dizendo: “Não é suficiente que eles evangelizem — eles também querem influenciar
as leis.”
Na opinião de Wyllys, só seu ativismo homossexual deveria
dirigir as leis. Os cristãos deveriam ser banidos.
O FT reconhece que a bancada evangélica, representada
especialmente pela Frente Parlamentar Evangélica, é um poder influente no
Congresso brasileiro e que “desempenhou um papel chave no impeachment da
ex-presidente esquerdista Dilma Rousseff.” Numa reportagem de abril intitulada “Impeachment
de Dilma mostra crescente poder evangélico no Brasil,” a CBN tinha
também reconhecido isso.
O FT diz que na Câmara dos Deputados, que tem 513
lugares, os políticos evangélicos formam a “bancada evangélica,” que representa
um total de 199 lugares.
O FT disse que o próprio impeachment foi liderado por
um dos mais proeminentes líderes evangélicos do Congresso, Eduardo Cunha, que
era então presidente da Câmara, anteriormente conhecido por defender projetos
de lei contra a agenda gay e o aborto. Contudo, o FT recorda que ele foi preso
em relação a um escândalo de corrupção na Petrobras — um escândalo que engoliu os
socialistas brasileiros mais poderosos que estavam envolvidos em casos de
corrupções maiores.
“O surgimento de políticos evangélicos reflete em
parte as mudanças demográficas no Brasil. Enquanto o Brasil ainda abriga a
maior população católica do mundo, o último recenseamento em 2010 mostrou que
as pessoas que vão a igrejas evangélicas subiram de 15,4 por cento da população
na década anterior para 22,2 por cento,” disse o FT.
A revista americana “Christian Century” (Século
Cristão) parece concordar com o FT ao dizer: “Alguns dos políticos mais
enérgicos a favor do impeachment foram líderes evangélicos. Em 2010, 44 milhões
de brasileiros, ou cerca de 22 por cento da população inteira, se identificavam
como evangélicos ou protestantes, e esse crescimento está levando à influência
política. Os neopentecostais estão liderando esse crescimento acelerado e estão
contribuindo de modo incomparável para o desenvolvimento de uma ideologia
política evangélica.”
“O crescimento deles está causando algumas preocupações,”
disse o site noticioso islâmico Al Jazeera.
“O crescimento do Cristianismo evangélico está
ocorrendo sem uma discussão profunda dos valores consagrados em nosso caráter
histórico,” disse Rogerio Baptistini, da Universidade Presbiteriana Mackenzie,
uma instituição calvinista mista
esquerdista e conservadora que não aceita o crescimento neopentecostal.
“Somos uma sociedade aberta e tolerante, mas esse
crescimento súbito ameaça a racionalidade,” acrescentou Baptistini, de acordo
com Al Jazeera.
Se Marcelo Crivella dependesse do comunismo, que ele
louvou, para ser o próximo prefeito do Rio de Janeiro, ele com certeza perderia
votos da maioria dos evangélicos. Mas ele está enfrentando um oponente socialista
mais radical. O FT diz: “No Rio de Janeiro, mais bem conhecido por suas praias
lotadas de banhistas com pouquíssima roupa do que seu passado português
profundamente católico, as pesquisas de opinião públicas indicam que o sr.
Crivella está liderando com 46 por cento de apoio, em comparação com 29 por
cento para seu rival, o candidato esquerdista Marcelo Freixo.”
O FT disse: “O sr. Crivella vem buscando se distanciar
de suas declarações mais radicais. Em seu livro, publicado inicialmente em 1999,
o sr. Crivella escreveu que… dava para melhorar a saúde pública expulsando os
demônios que causaram as doenças. Ele disse que as religiões africanas eram
baseadas em ‘maus espíritos,’ uma afirmação polêmica no Brasil, onde metade da
população tem algum sangue africano.”
Ainda que metade da população brasileira tenha algum
sangue africano, o FT deduz que existe uma obrigação automática de retratar e
rotular negros como membros de religiões africanas. A maioria das igrejas
pentecostais no Brasil, inclusive as Assembleias de Deus, que é a maior
denominação evangélica brasileira, têm entre membros e líderes muitos que são
negros e pessoas com sangue africano.
“O sr. Crivella tem pedido muitas desculpas pelo que
ele escreveu, dizendo que o livro era a obra de um jovem missionário, ‘cujo
zelo imaturo o levou a cometer esse erro lamentável.’ O livro foi publicado
quando ele tinha 42 anos. ‘Amo os católicos, os espíritas, os evangélicos,
todos. Se eu tiver alguma vez causado ofensa, peço perdão. O mesmo em relação à
homossexualidade,’ ele disse,” de acordo com o Financial Times.
Entretanto, Crivella nunca pediu desculpas por louvar
o comunismo, ainda que sua candidatura esteja sendo impulsionada por
evangélicos conservadores que odeiam o comunismo.
A emergência de um poderoso conservadorismo evangélico
empurrará Crivella para a Direita?
Com informações do Financial Times, Christian Century
e Al Jazeera.
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